Os últimos meses, um novo tipo de golpe virtual envolvendo a marca Shopee tem ganhado força no Brasil. Conhecido como o “golpe das tarefas pagas da Shopee”, essa prática fraudulenta tem atraído vítimas com promessas de lucros rápidos e recompensas em dinheiro, mas resulta em prejuízos financeiros e, em alguns casos, endividamento das vítimas.
Neste artigo, explicamos como esse golpe funciona, quais são os principais sinais de alerta, e o que a vítima pode fazer do ponto de vista jurídico e legal. O conteúdo é especialmente útil para consumidores, empreendedores digitais e profissionais do Direito que atuam com crimes cibernéticos, fraudes eletrônicas e direito do consumidor.
O que é o golpe das tarefas da Shopee?
Apesar de utilizar indevidamente o nome da Shopee, o golpe não tem qualquer ligação oficial com a plataforma. Trata-se de uma fraude digital estruturada, em que criminosos se passam por recrutadores da Shopee ou plataformas similares, oferecendo uma “vaga de emprego temporária” ou a chance de ganhar dinheiro fazendo tarefas simples.
Essas tarefas geralmente envolvem:
- Curtir ou seguir perfis em redes sociais;
- Avaliar produtos fictícios;
- Simular compras em marketplaces;
- Indicar novos participantes para o suposto programa.
Em um primeiro momento, o usuário recebe valores simbólicos para gerar confiança. Com o tempo, é incentivado a “investir” dinheiro próprio para desbloquear novas tarefas e, supostamente, obter lucros maiores.
O golpe se consolida quando a vítima envia dinheiro via Pix, transferência bancária ou aplicativos de pagamento e não consegue mais reaver os valores. A comunicação com os golpistas é encerrada, e as supostas plataformas ou atendentes desaparecem.
Golpe das tarefas: como os criminosos atraem as vítimas?
Os golpistas utilizam diversas estratégias para atrair vítimas:
1. Mensagens no WhatsApp ou Telegram
É comum que a vítima receba mensagens de números desconhecidos, com convites para participar de um “trabalho home office vinculado à Shopee”, oferecendo remuneração diária ou semanal.
2. Perfis falsos nas redes sociais
Contas falsas no Instagram, TikTok e Facebook divulgam vídeos de pessoas afirmando terem ganhado dinheiro com as tarefas da Shopee. Essas postagens muitas vezes incluem falsos comprovantes de pagamento e depoimentos encenados.
3. Sites clonados
Os criminosos também criam sites que imitam o layout da Shopee, para dar aparência de legitimidade. Nesses sites, a vítima se cadastra e fornece dados sensíveis, como CPF, telefone e até dados bancários.
O que diz a Shopee sobre o golpe?
A Shopee, por meio de seus canais oficiais, já se manifestou publicamente afirmando que não realiza recrutamentos via redes sociais ou WhatsApp, e que não oferece pagamentos por tarefas como curtidas, avaliações ou indicações.
A empresa também reforça que qualquer ação promocional oficial será divulgada diretamente por seus meios institucionais (aplicativo, site oficial ou perfis verificados nas redes sociais).
Aspectos legais do golpe das tarefas
1. Caracterização como crime
O golpe das tarefas da Shopee pode envolver a prática de diversos crimes previstos no Código Penal, tais como:
- Estelionato (Art. 171): Obtenção de vantagem ilícita induzindo a vítima a erro;
- Falsidade ideológica (Art. 299): Quando há uso de documentos ou sites falsos;
- Associação criminosa (Art. 288): Caso haja organização entre os fraudadores.
Também pode haver crime contra a economia popular, pela promessa de lucro fácil e pirâmide financeira disfarçada.
2. Direito à reparação
Embora nem sempre seja possível identificar os autores do golpe, a vítima pode buscar reparação cível se houver envolvimento de terceiros responsáveis — como plataformas de pagamento que falharam em mecanismos de segurança.
Em alguns casos, o banco receptor da transação pode ser responsabilizado solidariamente, caso fique comprovada a falha no dever de diligência ou a conivência com movimentações atípicas.
O que fazer se você foi vítima?
Se você foi vítima do golpe das tarefas da Shopee, siga as orientações abaixo:
- Não envie mais nenhum valor;
- Salve todas as provas: prints de mensagens, comprovantes de transferência, links de sites e perfis utilizados;
- Registre um boletim de ocorrência (preferencialmente na delegacia especializada em crimes virtuais);
- Comunique o banco ou instituição de pagamento imediatamente, solicitando bloqueio da transação, se ainda for possível;
- Procure um advogado especializado em direito digital ou consumidor, para análise jurídica do caso e possibilidade de ação judicial.
Como se proteger desse tipo de golpe?
- Desconfie de promessas de lucro fácil e rápido;
- Verifique sempre os canais oficiais da empresa citada;
- Nunca forneça dados pessoais em sites não verificados;
- Evite clicar em links enviados por desconhecidos;
- Pesquise sobre a reputação do programa antes de investir qualquer valor.
Conclusão
O golpe das tarefas da Shopee é mais um exemplo de como a engenharia social tem sido usada para enganar e lesar financeiramente milhares de pessoas. O uso indevido de marcas conhecidas, como a Shopee, dá aparência de legitimidade ao golpe, o que exige ainda mais vigilância por parte dos consumidores.
Do ponto de vista jurídico, é essencial agir rapidamente, reunir provas e buscar orientação profissional para avaliar as possíveis ações judiciais de reparação. A atuação de escritórios de advocacia especializados é fundamental para coibir essas práticas criminosas, além de garantir os direitos das vítimas.